Existe uma enorme dificuldade na classificação das espécies do gênero Leishmania, devido a grande semelhança morfológica entre elas (Chance,1979). Inicialmente, o gênero Leishmania tinha suas espécies identificadas em função do aspecto clínico das doenças, (Pêssoa, 1941a; 1961) muito embora os dados epidemiológicos envolvendo uma grande variedade de vetores e reservatórios sugerisse que este gênero seria certamente composto de populações de parasitas extremamente heterogêneas. Baseados em critérios extrínsecos, que tendem a gerar uma classificação artificial (Lumsden, 1977), tais como comportamento do parasita em cultura e em hamster, Lainson e Shaw (1972) reuniram as espécies de Leishmania em 3 complexos: complexo Leishmania braziliensis, Leishmania mexicana e Leishmania donovani. A classificação atual das espécies deste gênero baseia-se em características clínicas e epidemiológicas, apoiada por aspectos biológicos, bioquímicos e moleculares (WHO, 1990).

    Diferenças morfológicas entre as espécies parasitas do homem foram demonstradas por Shaw & Lainson (1976), usando técnicas de impressão, fixação, coloração e microfotografia. Mais recentemente, vários pesquisadores têm empregado métodos bioquímicos para caracterização de parasitas, como a densidade de flutuação do DNA nuclear e do cinetoplasto (Chance e cols., 1974), hibridização de ADN e ARN, análise eletroforética de produtos do ADN do cinetoplasto clivados por enzimas de restrição (esquisodema), mobilidade eletroforética de isoenzimas (Ebert, 1973; Brazil, 1978; Gardener e cols,1974), radiorespirometria (Decker e cols., 1977), anticorpos monoclonais (Pratt, 1981) e análise de antígenos de diferenciação em promastigotas ou seus fatores de excreção (Schnur e Zuckerman, 1977; Schnur e cols., 1972 e 1974).

    Atualmente aceita-se como razoável classificar as Leishmanias que infectam o homem em complexos fenotípicos, agrupados em dois subgêneros, cada um englobando várias espécies (Lainson & Shaw, 1987): a) Subgênero Viannia (que inclui o complexo braziliensis, guyanensis, lainsoni, naifi ), as Leishmanias apresentam desenvolvimento pobre em meio de cultivo NNN convencional, desenvolvimento lento ou visceralizante em hamsters experimentalmente infectados e desenvolvem-se no intestino posterior do flebotomíneo, aderidos à parede, na região do piloro; b) Subgênero Leishmania (que inclui o complexo mexicana, mexicana, infantum, amazonensis, enrietii, hertigi), as Leishmanias crescem facilmente em cultura, provocam grandes lesões nodulares em hamster, com metástases para as extremidades e se desenvolvem no intestino médio e anterior do flebotomíneo (Marzochi, 1992).

    No Novo Mundo, são reconhecidas oito espécies de Leishmanias responsáveis pela doença no homem (Grimaldi Jr., G. e cols., 1989), pertencentes ao subgênero Viannia (V) e Leishmania (L):

    -"Leishmania (V) braziliensis" (Vianna, 1911): causa lesões cutâneas e mucosas com ampla distribuição geográfica da América Central ao Norte da Argentina.

    -"Leishmania (V) guyanensis"(Floch, 1954): causa predominantemente lesões cutâneas e ocorre na parte da América do Sul, restrita à Bacia Amazônica;

    -"Leishmania (V) panamensis" (Lainson & Shaw, 1972): causa predominantemente lesões cutâneas, e ocorre na América Central e Costa Pacífica da América do Sul;

    -"Leishmania (V) lainsoni" (Silveira e cols., 1987): causa lesões cutâneas e ocorre no norte do Estado do Pará, na Região Amazônica do Brasil;

    -"Leishmania (L) mexicana" (Biagi, 1953): causa lesões cutâneas e eventualmente difusas (anérgicas) e ocorre no México e América Central;

    -"Leishmania (L) amazonensis" (Lainson & Shaw, 1972): causa lesões cutâneas e eventualmente difusas (anérgicas) e ocorre desde a América Central até o norte, nordeste e sudeste da América do Sul;

    -"Leishmania (L) venezuelensis" (Bonfante-Garrido, 1980): causa lesões cutâneas e ocorre na Venezuela;

    -"Leishmania (L) chagasi"(Cunha & Chagas, 1937): causa a forma visceral com febre, anemia, hepatoesplenomegalia, emagrecimento e ocorre do México ao norte da Argentina, com predomínio no nordeste brasileiro.

    As diferentes espécies do gênero Leishmania produzem grande variedade de manifestações clínicas que dependem da interação entre a resposta imune do hospedeiro vertebrado e da invasividade, tropismo e patogenicidade deste parasita (Wilson & Pearson, 1990).


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