As formas flageladas (promastigotas) transmitidas pela picada de flebótomos penetram nos macrófagos e se tranformam em amastigotas que vão se multiplicar dentro de vacúolos parasitóforos. A relação parasito/hospedeiro depende do perfil de linfocinas induzidas ao início da infecção como tem sido evidenciado no modelo experimental murino, cuja infecção pela L. major vem sendo bastante estudada. A atividade leishmanicida de macrófagos depende da produção de radicais livres como O2 e NO2, em resposta ao interferon gama (IFN-gama). O equilíbrio da infecção depende de alguns fatores: após a penetração, as leishmanias induzem a produção de TNF-alfa pelos macrófagos, o que potencializa a ação do IFN-gama que vai promover a ativação dos macrófagos. Por outro lado induz também a produção de TGF-beta que inibe o IFN-gama, estando, portanto, relacionada à não ativação dos macrófagos. Dentro da dinâmica do processo inflamatório, em sua fase inicial, temos que assinalar que as células NK produzem IFN-gama e as plaquetas, que rapidamente chegam ao foco inflamatório, são capazes de transportar TGF-beta.

Este complexo de ações determina o estado de resistência do hospedeiro a esta infecção, fato que é controlado geneticamente. Temos assim, por exemplo, no modelo murino, linhagens de camundongos que são resistentes à L. major (camundongos C57BL/6) cujas lesões se curam espontameamente após desenvolverem lesões cutâneas e se tornam resistentes à reinfecção. Nesta resistência, populações de células com perfil de linfocinas do tipo Th2: IL-4, IL-5, IL-6 e IL-10; enquanto sub-populações Th1 produz IL-2, IFN-gama e TNF-alfa. Tanto Th1 quanto Th2 produzem IL-3 e GM-C5F.

Devemos salientar também que a presença de leishmania no interior de macrófagos interfere com a apresentação do antígeno e pode influenciar no curso da doença. Um outro fato que também tem chamado a atenção de alguns pesquisadores é o efeito imunossupressor de componentes da saliva do flebótomo.

Por outro lado, linhagens de camundongos Balb/c desenvolvem uma infecção cujas lesões não cicatrizam, evoluem para necrose e, em geral, ocorre a perda do membro. Além disso, há formação de metástases e os camundongos morrem em algumas semanas. Th1 e Th2 têm uma participação importante, cujos resultados estão extremamente bem documentados. A análise dos perfis de linfocinas produzidas por estas duas sub-populações de lifócitos CD4+ mostraram que camundongos de linhages sensíveis Balb/c produzem linfocinas do perfil Th2.

O sistema imune da pele tem sido definido como um complexo de reações imunológicas e de células correlacionadas a estes fenômenos que ocorrem na região cutânea. As células do sistema imunológico cutâneo interagem com a resposta imune, envolvendo um conjunto de fatores humorais que podem estar relacionados com a imunidade natural (queratinócitos, histiócitos, monócitos, granulócitos e mastócitos) ou com a imunidade adquirida (células de Langerhans, células T e células endoteliais). O sistema imune da pele participa de mecanismos imuno regulatórios envolvidos na leishmaniose cutânea.

As células de Langerhans expressam em sua membrana antígenos de histocompatibilidade de classe II e funcionam como células apresentadoras de antígeno, podendo ser colonizadas pelo parasito, como já foi demonstrado no modelo experimental. A epiderme de pacientes com leishmaniose cutânea localizada (LCL) apresenta-se com um número elevado de células de Langerhans e queratinócitos expressando ICAM-1 e MHC II, nesta predominando uma resposta TH1. A leishmaniose mucocutânea (LMC) é caracterizada pela expressão exacerbada de ICAM-1 e HLA-DR pelos queratinócitos, uma deficiência de células de Langerhans, movimento de células T na epiderme e um granuloma do tipo Th1 e/ou Th2. Na leishmaniose cutânea difusa (LCD) os queratinócitos não expressam ICAM-1 ou HLA-DR, existem poucas células de Langerhans e uma produção incompleta de citoquinas. Na LCD o granuloma exibe uma resposta Th2.


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