Apresentação

No ano de 1995 nossas atividades foram muitas, todas as que cabem em um Instituto de Pesquisa de 95 anos. Não posso, portanto, deixar de dizer algumas palavras sobre a intensa e profícua atividade intelectual de 86 doutores e 90 mestres entre os 211 pesquisadores, 600 funcionários e quase igual número de estudantes e estagiários, sendo praticamente a metade inscrita em cursos de pós graduação (PG) stricto sensu. Enfim, 1069 pessoas envolvidas em atividades científicas conduzidas em 60 laboratórios (credenciados bianualmente por comissões de alto nível) distribuídos em 16 departamentos, que incluem um hospital de ensino e pesquisa. O IOC abriga ainda um Departamento de Ensino - com o único curso brasileiro formador de técnicos de pesquisa em biologia parasitária - e a editoria das Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, criada em 1909.

Assim constituído, o Instituto publicou, em 1995, 220 artigos científicos respondendo por 67% (161) da produção repertoriada pelo Institute of Scientific Information (ISI) para todas as 12 unidades Técnico-Científicas da Fiocruz juntas. A revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz foi, segundo os dados de 1994, últimos disponíveis no ISI, a publicação brasileira e latino-americana mais citada (524 citações) na categoria "Medicina - Pesquisa Experimental". Se já estivesse vigorando sua nova classificação na categoria "Medicina Tropical e Higiene", nossa publicação obteria o oitavo lugar mundial no critério "total de citações". Os cursos de pós-graduação do IOC concentraram 52% das 92 teses defendidas na Instituição e 159 (67%) dos trabalhos da Jornada Científica da Fiocruz, onde tradicionalmente são apresentadas as teses em andamento. Para entendermos estes dados, basta termos em mente que o IOC tem seis dos nove cursos de PG stricto sensu da Fiocruz credenciados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior com conceito A, 277 (46%) dos 608 alunos com inscrição ativa na PG stricto sensu da Instituição e formou, de 1980 a dezembro de 1995, 234 mestres e 27 doutores. No Programa de Vocação Científica da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, 37 (82%) dos 45 inscritos, realizaram seus estágios em laboratórios do IOC.

Tal desempenho foi sem dúvida facilitado pelas nossas conquistas de recursos financeiros. Era de US$ 1.3 milhão o orçamento de nosso Instituto quando assumimos sua direção em 1993 e de US$ 7.3 milhões quando dela fui exonerado em 1995. Recebemos em 1995, 8.5% dos recursos destinados ao financiamento das unidades da Fiocruz contra 6.0% no início de nossa gestão. Um aumento de 42% ! Incluindo o Hospital Evandro Chagas - departamento do IOC e unidade orçamentária da Fiocruz - recebemos 10.5% do orçamento total distribuído, inquestionavelmente uma excelente relação custo/desempenho, considerada a nossa produtividade técnico-científica.

Dia 25 de maio de 1995 o IOC completou 95 anos de existência. Uma bela cerimônia de comemoração - como merecia nosso Instituto - incluiu uma homenagem aos seus quatro últimos Diretores com a entrega de caricatura de Oswaldo Gonçalves Cruz, esculpida pelo artista José Andrade para o Instituto. Outra caricatura, idealizada por Fernando Vasconcellos, ilustrava um carimbo - alusivo ao aniversário - cujo lançamento pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos foi infelizmente cancelado pelo Presidente da Fiocruz. Na ocasião, demos posse a 16 chefes dos departamentos científicos e de ensino do Instituto.

Eleitos que são pelos integrantes de cada departamento, as chefias de Departamento são considerados no Instituto Oswaldo Cruz verdadeiros cargos de confiança da comunidade que representam no Conselho Deliberativo (CD) do IOC, onde têm a possibilidade de expor e defender democraticamente suas opiniões e as de seus representados. Também compõe nosso CD, os vice-diretores, que tive a oportunidade de escolher e o prazer de ver eleitos comigo na chapa "Com Ciência" em março de 1993. Foi motivo de enorme satisfação trabalhar lado a lado com os colegas escolhidos por mim e com os eleitos pela comunidade, ainda que algumas vezes tenhamos defendido idéias diferentes, sempre em prol da nossa Instituição, no mais pleno exercício de democracia.

Mas o ano de comemoração do 95º aniversário do Instituto Oswaldo Cruz foi também, e sobretudo, um ano de realizações.

Em nossa gestão, visamos a total transparência nos atos administrativos, a melhoria das condições de trabalho - que cronicamente co-habitam com os pesquisadores do IOC pulverisados em 13 prédios do campus - e a intensificação do processo de compras para uma comunidade cansada da penúria e do racionamento de materiais e equipamentos. Tal apoio abrangeu desde a compra de uniformes para os funcionários à informatização de todos laboratórios e departamentos, incluindo a composição de listas de reagentes básicos (nacionais e importados), comprados e mantidos em estoque para atendimento imediato da demanda dos pesquisadores, e a aquisição de aparelhos de maior porte como o terceiro citômetro de fluxo do Instituto.

Como resultado de um real processo de fortalecimento da infra-estrutura necessária para o total apoio às atividades de ensino, foi formalizada e efetivamente criada uma estrutura de abrigo e facilitação dessas atividades. Hoje, um Departamento de Ensino do Instituto Oswaldo Cruz, chefiado por profissional da área de pedagogia com experiência em pós-graduação nas áreas biológica e biomédica, abriga quatro secretarias (acadêmica de pós-graduação, acadêmica de nível técnico, de desenvolvimento educacional e de apoio educacional) que coordenam, apoiam e operacionalizam atividades dos cursos de PG stricto e lato sensu, além do curso técnico. Graças à atualização cuidadosa dos cadastros e à criação de um completo banco de dados (alunos, ex-alunos, professores, orientadores, disciplinas, histórico escolar, ficha de disciplina, freqüência, etc), o Departamento hoje centraliza, de forma eficiente, a inscrição, a informação e a documentação dos estudantes e mantém intensa atividade de estudo do perfil das atividades e do corpo discente desde a criação do primeiro curso de PG stricto sensu em 1976. O Departamento está hoje apto a oferecer apoio didático-pedagógico, de informática e de editoração e reprodução do material educacional e a produzir material didático e audiovisual para professores e alunos. Finalmente, foi criado, com o importante apoio dos cursos de PG, um laboratório de informática, mantido à disposição dos estudantes. Sem dúvida uma longa trajetória desde a criação do curso de aplicação do IOC, criado em 1908.

As Memórias do Instituto Oswaldo Cruz também mereceram nossa especial atenção. Honrando seu merecido prestígio, conseguimos que fosse instalada sua secretaria no Castelo Mourisco onde também ficou o seu acervo, hoje organizado de forma a poder atender a qualquer demanda externa. Sua secretaria foi informatizada e dispõe atualmente de linha telefônica direta. Através de sua "Home Page" na Internet, pode-se ter acesso aos resumos dos artigos publicados e, em futuro próximo, aos artigos integrais e aos resumos dos artigos no prelo. Sua infra-estrutura modernizada permitiu que fosse implantado o sistema de vendas por assinaturas, revisar e incrementar as permutas com bibliotecas e outras instituições e adotar um novo projeto gráfico para a revista, cuja capa tem hoje como cor dominante a do tijolo de Marseille usado na construção do nosso Castelo. Cabe naturalmente enfatizar que todas estas conquistas foram acompanhadas de uma substancial redução dos custos da impressão dessa nossa prestigiosa e tradicional revista.

Investimos sem reservas no fortalecimento da administração e da infra-estrutura da gestão da pesquisa com a criação e a consolidação de um Departamento Administrativo. Para minorar os eternos problemas de comunicação entre pesquisa e administração, o vinculamos diretamente a um dos vice-diretores pesquisadores que é assessorado por chefes de serviços especialistas em suas respectivas áreas: apoio à realização de eventos científicos, informática e material, compras, recursos humanos e secretaria geral. Como resultado de uma política clara de estímulo e valorização do desenvolvimento administrativo, mostrando sem ambigüidades nem demagogias seus compromissos para com as áreas fins do Instituto, temos hoje oito dos 14 funcionários da Diretoria com nível superior contra os apenas dois de nove em 1993. Produzimos o repertório "Quem é Quem" em Ciência e Tecnologia no IOC e um folheto Institucional à altura de nosso Instituto. Para ilustrar nossa visão de que a informação é o instrumento da transparência, basta dizer que no final de 1995, cerca de cento e cinquenta números do "Informe do IOC" haviam circulado semanalmente entre quase 200 líderes de grupos da Instituição, desde nossa posse.

Com a Assessoria de Planejamento, iniciamos a realização do "Seminário de Planejamento Estratégico do IOC". Para tal, em diferentes etapas, convidamos destacados profissionais da área com especialização em atividades de pesquisa de Instituições como a Universidade de São Paulo, Fundação Getúlio Vargas e a Pontifícia Universidade Católica e abrimos a discussão. O objetivo foi formalizar a definição da missão institucional do IOC, assim como da composição e da estrutura adequadas à plena consecução de sua missão e estabelecer critérios para organização e credenciamento de estruturas departamentais, laboratoriais e de núcleos. Outro dos objetivos foi criar a dinâmica de priorização do financiamento das pesquisas aqui desenvolvidas com o apoio das verbas públicas. A mobilização da comunidade foi excelente e os documentos, contendo várias sugestões e colaborações para o processo, elaborados pelo corpo técnico-científico do Instituto, foram de alto nível. Muito há ainda sem dúvidas a ser feito, mas a semente está lançada!

Como última de nossas ações em 1995, e pela primeira vez na história do Instituto Oswaldo Cruz, no dia 15 de dezembro outorgamos o título de Doutor Notório Saber a quatro dos mais renomados pesquisadores de nossa casa: Haity Moussatché, Herman Lent, Maria José von Paumgartten Deane (in memoriam ) e Wladimir Lobato Paraense. Na ocasião, foram entregues também o certificado de conclusão aos alunos do Curso Técnico em Biologia Parasitária, o que deu ainda mais beleza à cerimônia. Esta aliou e reuniu, portanto, jovens que ingressavam na área de ciência e tecnologia com experientes cientistas que tiveram merecidamente reconhecida a excelência de suas carreiras científicas. Foi, como bem podem imaginar todos, uma honra e uma felicidade para mim, como Diretor do Instituto Oswaldo Cruz, participar da gênese de um tal evento.

Fui afastado de meu cargo pela Presidência da Fiocruz, em 2 de janeiro de 1996. Esta ação, repercutiu como cassação política na comunidade de pesquisadores, técnicos e funcionários do Instituto Oswaldo e foi inclusive diagnosticada publicamente como tal por uma das vítimas do Massacre de Manguinhos de 1970. Minha exoneração, travestiu-se de simples ato administrativo decorrente de um processo cuidadosamente montado para afastar-me da Direção do IOC, que, quando analisado por autoridades idôneas de uma Comissão de Ética imparcial e do Ministério (incluindo o Ministro) da Saúde, apontou minha total inocência e o descabimento das acusações que me imputaram.

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